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Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Landon é um personagem querido, daqueles que todo mundo amaria ter por perto. É aquele amigo leal e gentil que nos faz dizer: “Que sorte a de Tessa! Talvez não teria suportado tudo o que viveu sem o apoio do melhor amigo”. Ter com quem contar muda as coisas e Landon sempre foi essa pessoa: pra Dakota, pra Tessa, para a mãe… Ler a história de Landon é muito interessante para fazer o contraponto à história de Hardin, e de como todas as escolhas, seja para o ser bad boy ou o good guy, atravessam, necessariamente, questões do passado.

Em Nothing More e Nothing Less, Anna nos dá detalhes da história desse personagem, em uma escolha muito sábia. Em entrevistas, a autora diz que sempre acreditou que Landon mereceria um destaque. Além de ser querido por todos, ele tem uma saída diferente dos protagonistas de After, porque enfrenta a vida com alternativas guiadas pelo amor e pela fé no outro. Não que o seu passado tenha sido brilhante, mas os meios que os trouxeram até a vida adulta foram muito diferentes.

É em Nova York que vamos conhecer de perto quem é Landon Gibson, para além do melhor amigo de Tessa e o (finalmente) conselheiro/meio irmão de Hardin. Enquanto a sua colega de apartamento divide o seu tempo em horas de trabalho e no seu relacionamento de idas e vindas com Hardin, Landon transparece para o leitor todas as suas inseguranças, medos, saudades da mãe e dificuldade para decidir o próprio caminho. Digamos que Landon se aproxima do leitor no momento em que é justo com todo mundo e se vê quase que de forma cômica, a lidar com as injustiças da vida, por não se sentir à vontade em defrontá-las.

Landon perde o pai muito cedo e conhece uma mãe amorosa. Ainda na infância, encontra Dakota, por quem se apaixona e se vê destinado a amar, principalmente depois de ter praticamente internalizado os traumas dela com o pai abusivo que tinha. Landon parece carregar o mundo nas costas e o trocadilho dos nomes dos livros “Nada mais” e “Nada menos” refletem bem a personalidade que ele sempre expressou para o outro.

Entre todo esse cuidado, entretanto, conhecemos um personagem que também erra. De tanto optar pelas “escolhas certinhas”, ele abdica de si mesmo e sofre até conseguir decidir-se por um amor que merecia. Em alguns momentos Landon lembra o controle que Tessa tinha consigo mesma nos primeiros capítulos de After. A vida cheia de pudor e reflexões sobre “O que o outro vai achar de mim?” o reprimiam sexualmente de se entregar aos seus próprios prazeres e deslanchar aos seus verdadeiros amores.

Nora é a personagem que aparecerá como a garota apaixonada por ele desde Washington, quando ele nem a nota, justamente por estar fixado à Dakota – que provavelmente já lhe dava sinais de que o relacionamento entre eles não estava bom. A troco de ser um cara correto, Landon se acomoda neste lugar e surpreende-se quando muda-se para a Nova York  e leva um pé na bunda da namorada. Por coincidências do destino, Nora é amiga de Tessa, que a leva para dentro da casa que eles viviam e faz Landon enfrentar a pulsão sexual que Nora o despertava.

Nora revela-se a Landon, quase como o que Hardin foi para Tessa, alguém que o obriga a sair dos tabus e normas sociais, inclusive a de querer namorar uma ‘rival’ de sua ex-namorada – mesmo ele já tendo sido rejeitado. E isso não é um processo fácil pra ele. Ele se acostumou a internalizar os traumas dos outros, inclusive os de Hessa, para então existir. Ele só poderia ser útil no mundo, se pudesse afagar quem estava por perto.

A sensação que fica é que Landon tem um papel social a cumprir, que sofre para desapegar-se. Ele não poderia negar-se pra mãe, pra Tessa, pra Hardin, para Dakota, para quem quer que fosse. Ainda que a vida lhe obrigasse a seguir novos caminhos, ele sofria para aceitar. Essa é uma característica de Karen, do amor além da alma. E esse é o ponto para Landon. Enquanto cuida do outro, quem é que cuida dele?

Há ainda uns traços de timidez claramente notados neste personagem e creio que isso também facilitava o fato dele se acomodar no papel que sempre exerceu. Antes de Tessa, por exemplo, acho que nunca teve outros amigos com quem conseguira se abrir tanto. Ele já estava acostumado a ser aquilo e não estava disposto a se mostrar uma pessoa diferente. Até que o amor o exige. É impressionante como é sempre por essa via que o sujeito aparece, que se sujeita a sair do lugar e encarar as suas falhas, literalmente.

O passado e quem sempre foi fazem Landon travar uma batalha diária consigo mesmo, nos mostrando que até as pessoas ‘certinhas’ fazem escolhas ruins. Se não pro outro, para si mesmo. A diferença, neste caso, é que há fé. Landon acredita e se permite ao amor muito mais do que Hardin se permitia no início. É inclusive por causa dele, que a aproximação entre eles é possível. Landon acredita nas pessoas. E é esse o ponto de alívio e sofrimento. Traz dor no momento em que ele se omite para fazer existir o outro, mas traz alívio, quando confirma que o amor não decepciona, que ele pode tentar de novo, mesmo que com uma pessoa diferente.

Eu diria que o que Landon não é o rapaz ‘certinho’ como o conhecemos. Ou só o é para os outros. Consigo ele é muito severo, rígido e pouco permissivo. E isso tem um preço pra ele. Todavia, o amor o permite viver para além disso. Quando se liberta, não tem medo de viver, tão pouco de perder. O verdadeiro medo de Landon é não amar. E ele luta com isso a vida inteira.   

E assim conhecemos o desfecho do rapaz que precisa ser amado para existir. Com medo de errar e não ter o amor do outro, ele desfaz-se de si na maior parte do tempo. Neste ponto, questiono quem é que faz as escolhas certas em After: se é Hardin que faz de tudo para viver um amor ou se é Landon, que deixa de amar e se entregar à Nora porque teme não ser amado. O certo e o errado é uma questão de ponto de vista, por isso não há receita de bolo para felicidade. O que muda é a perspectiva. Landon sempre julgou agir certo, e só percebeu o quanto estava ‘do lado errado’, quando viu que estava vivendo para agradar o outro, e não a si mesmo.

E a vida é assim, cheia de escolhas. Se é certa ou errada, só cabe ao sujeito julgar. Adoro a frase de Tessa no último livro de After que diz: “É muito fácil julgar um relacionamento quando você não está envolvida nele”. E eu adaptaria, neste caso, para: “É muito fácil julgar alguém quando não é você o protagonista da história”. Na dúvida, faça-se protagonista e autor da sua própria história, a não ser que deseje ser um Landon, que espera o julgamento do outro para saber de si. Só não se esqueça que ele somente consegue viver um amor depois que percebe que mais do que ser amado, a grande graça da vida é permitir-se amar.

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.

Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Vocês pediram e aqui está. Todo mundo quer entender um pouco mais sobre a progenitora de Hardin, e com razão. Onde há uma história complexa, sempre há outra ainda mais, principalmente se envolver questões parentais e familiares. A escolhas de Trish fadaram o filho e todo o contexto que a envolveu, a consequências que ela nunca soube dizer e nem tratar. Alguns psicanalistas dizem que passamos a vida tentando resolver os traumas causados em nossos primeiros anos de vida, e Hardin está aí para nos provar isso.

Pelo visto, fazer ‘escolhas erradas’ nunca foi um privilégio do protagonista da obra de Anna Todd. Quem leu a história completa de After sabe que todas as ações de Trish impactaram no desenvolvimento do filho com a vida, desde a história dos ‘dois pais’ até o seu desenrolar com Tessa e os incontáveis traumas que ele precisou lidar.

Resumidamente, Trish casou-se com Ken amando Vance, com quem teve o seu único filho. Sem nunca suportar a ideia de viver às sombras de um casamento falido e sem qualquer tentativa de tentar resolver isso com a esposa, Ken tampona a sua história pela via do álcool. Ele conta por diversas vezes que sempre teve apreço por Hardin, mas que enquanto viviam no mesmo lar, nunca conseguiu suportar a história de traição entre sua amada e o seu melhor amigo que o garoto representava. Percebam como Hardin já nasce em um contexto de culpa. Na psicanálise a gente diz que a chegada de um bebê antecede ao seu nascimento, pois ele é inserido na linguagem antes mesmo de falar, pois já falam por ele, já criam o universo dele e até o nomeiam. “Ele vai se chamar Hardin e significa o resultado de uma história de amor e traição”, que é como Trish descreveria isso, se tivesse tido a chance de falar. 

As consequências do álcool na relação entre Hardin e Ken já foram descritas por aqui, no texto “Ken, Hardin e o alcoolismo”. A mais marcante, entretanto, vale a pena retomar. Por um acerto de contas entre os amigos de Ken, Trish é estuprada dentro da própria casa, aos olhos do seu filho. As consequências disso para ele, já conhecemos. Se pudesse ter uma ‘vingança’ pelo fato da esposa ter se deitado com o melhor amigo, nesse momento Ken haveria conseguido, mas não foi bem assim, e nunca foi esse o propósito. Sem a existência de um casamento que justificasse a união entre eles, Ken muda-se para os Estados Unidos e deixa a esposa e o filho (que nunca foi seu) para trás. Por consequências da vida, Vance também nunca o assumiu e Trish pagou caro por essa decisão até o filho tomar consciência de toda história.

Traumas acontecem, o tempo todo, com todo mundo, mas se isso não é dito, jamais é resolvido. Vejam como essa mãe ‘pagou’ pela sua história até pelo filho que fazia escolhas erradas e teve que sair do lado dela, justamente por nunca ter tido a chance de resolver o trauma da sua infância, como abordei no texto Natalie e o passado traumático de Hardin”. Trish fica sozinha, Hardin vive uma vida ‘de mentira’, sem conseguir relacionar com os seus pais e com o próprio amor, por falta da palavra.

Já disse uma vez que a família de Hardin peca pelo silêncio, principalmente de Trish. Se ela tivesse falado desde o início que amava Vance e assumisse essa escolha, talvez nada disso tivesse acontecido. O fato é que as pessoas vivem reféns de suas culpas, de não poderem amar e serem quem elas quiserem ser. Ela omite para Ken o seu amor verdadeiro, omite de Hardin a sua verdadeira história e omite de si a chance de ser feliz. O ‘não dizer’ vai trazer para essa mulher uma culpa impagável ao longo da vida.

Trish só consegue amar de verdade e ter uma vida tranquila quando Hardin desamarra – aos trancos e barrancos-, todo esse nó. Horas antes de se casar com o vizinho (na tentativa de viver um novo amor), ela ainda mantém uma relação com Vance, que dá a ideia de que algo disso ainda não foi resolvido. É uma mulher que constroi a sua história por atuações e prefere, inconscientemente, correr o risco de ser pega pelo filho a contar toda a verdade pra ele.

Vance e Ken também erram em não dizer a verdade, mas há algo que é da história dela. Trish é, para mim, uma versão antagônica de Tessa, que num primeiro momento é aparentemente frágil, mas que assume as suas escolhas logo a princípio. Não foi preciso um trauma maior para que ela pudesse terminar com Noah o relacionamento que ela nunca quis viver, e isso muda muita coisa.

Trish atua tanto para o filho, que mal se permite sair da vida ‘miserável’ que levava em Londres, como Hardin definia. É uma história que envolve ‘não poder dizer’, muito menos viver um amor que cultivou na juventude e traz consequências traumáticas para uma maternidade que nem ela consegue suportar. Ver Hardin pequeno dividindo a casa com Ken, o homem que ela não amou, traz sofrimento. Ver o jovem que Hardin se torna a partir das escolhas difíceis com outras mulheres, também tem um preço alto pra ela, e por isso se satisfaz tanto quando conhece Tessa. É como se ela depositasse nela, algo que ela mesma nunca conseguiu fazer pelo filho: um homem melhor.

Não fecharia essa história como uma ‘mentira’ pura e simplesmente, porque não é o caso julgar. Cada um sabe da sua dor de existir e talvez Trish tenha sido ensinada a nunca se posicionar frente a um outro e que a felicidade seja sinônimo de culpa. Ninguém faz escolhas erradas por maldade, não há decisão sem um porque. De qualquer forma, não podemos deixar de alertar para um ‘não dito’ que carrega um sofrimento que não é resolvido nem pelo amor do vizinho – que felizmente ela irá encontrar depois-, mas pela exposição de toda a sua história.

Em resumo, não é tamponando uma falta que ela vai deixar de existir. Não há álcool nem paixão que a suporte. Só há o dizer. Quando o ato dá lugar à palavra, há então, paz. O conhecimento a liberta, liberta Hardin e faz de After, uma história feliz, no final das contas.

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.

Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Antes de mais nada, a pergunta principal: o que é o amor? Sem dúvida a minha resposta é diferente da sua, que é diferente da de Anna Todd, de Hardin, de Tessa, de quem quer que você conviva. O amor é único, singular, seja para expressar, seja para sentir. Não há receita de bolo pra dizer o que é necessário para ser/ter um ‘amor perfeito’. Há várias formas de amar uma mesma pessoa e cada um tem a sua. O que é bom pra um, não é necessariamente para o outro.   

Um dos amores mais deliciosos é o platônico, aquele que é exatamente do jeito que você imagina, perfeito, sem furos, que nem mesmo os defeitos são capazes de fazer você deixar de amar. Esse é o amor inacessível, pela obra, por um personagem ou artista e até mesmo por alguém próximo. É aquele amor pela fé, pelo que você acredita que é, e que se for acessível um dia, deixa de ser perfeito. Há pessoas que amam o Hardin, mas jamais saberiam viver com um. Outras amam amar Hardin e esse sentimento basta. Tem aquelas que amam ter o sentimento de Tessa por Hardin ou simplesmente se apaixonam pela escrita que Anna faz. Há vários tipos de amor, e hoje vamos falar daquele que se ama em After.

Dentre as perguntas que mais recebo no Instagram, todo mundo quer entender esse jeito peculiar que Hardin tem de amar. Há dezessete semanas venho falando sobre isso em todos os textos da coluna After no Divã, mas hoje decidi pinçar de forma mais específica. Há uma estranheza na demonstração de afeto deste personagem, que faz um curioso enigma em Tessa e em quem escolhe amá-lo junto com ela.

Depois de dizer que a pessoa que mais ama no mundo é ele próprio, Hardin já dá a dica que isso nunca mais será verdade. Discuti isso no texto “Hardin Scott, a cena do lago e o mito do narciso”. Frente a esse encontro com um outro que lhe dá a oportunidade da fala, no momento em que externa isso, jamais conseguirá assumir novamente. Este ato o transforma e marca o fato de que ele odeia ter que amar a vida. Há muito amor misturado com dor naquele inconsciente que ele não necessariamente está disposto a lidar.

Entretanto, com medo de perder o amor em si, começa a fazer barra no amor do outro. No caso de Hardin, por via do controle. Quando começa a se perder no outro, ele precisa que este reafirme que ainda há amor em si. O pessoal do Central After Help (@C_A_Help) pontuou uma possível discussão sobre o “Eu TAMBÉM te amo”, onde Hardin solicita obsessivamente que Tessa não apenas concorde, mas que também diga que o ama. Isso nada mais é do que uma tentativa de tentar controlar aquele relacionamento que ele passou a viver intensamente e a amar mais do que a própria vida. Há notoriamente um “não saber” dele, trazido pela insegurança de acreditar que aquilo seria real também para quem ele destinava a sua libido. É como se Hardin enviasse uma carta e não quisesse saber apenas que o destinatário recebeu. Ele precisava desse endereçamento retornado a ele.

Hardin parece pedir a Tessa a bússola para o relacionamento, para que ele jamais permaneça ali sozinho, principalmente quando começa a abrir mão de suas escolhas e de quem sempre foi. O maior medo dele desde o início, era se perder em algo que ele não poderia controlar. Não por um acaso, ele faz (e mantém) uma aposta, para se ‘agarrar’ a quem era, com medo de se perder completamente e não poder voltar.

Por mais estranho que isto possa soar, as atitudes controladoras de Hardin fazem pra ele um lugar seguro, de que ele poderia retornar a ser quem era quando bem entendesse. Mas com Tessa não era assim. Havia consequências. Se com as outras garotas ele poderia perder, com ela, não. Ele simplesmente não poderia. Ou ele perderia de si ou perderia o amor dela, e numa tentativa de não perder nada, ele controla, tenta ‘engavetar’ as suas pulsões e ‘guardar’ numa perspectiva até paranoica, aquilo que conquistara. É claro que Tessa também tem questões inconscientes pelas quais permanece neste lugar – e que já discuti por aqui várias vezes.

O amor faz claramente um sintoma para Hardin. Para um sujeito obsessivo, amar pode ser muitas vezes, um ponto de sofrimento. Sabe aquela pessoa que sempre controlou tudo, desde as escolhas profissionais até o que as garotas iriam sentir por ele? Pois é, com o amor é diferente, ele não pode decidir sempre a troco do risco de perder quem ele passou a amar. O amor descontrola, tira do eixo.

Na maioria dos casos de traição (com outra pessoa ou com uma aposta, como é neste caso), são cometidos justamente por pessoas que temem ser traídas ou deixadas. Com medo do que o outro possa fazer enquanto não controla o seu próprio desejo, o sujeito se antecipa a isso, quase que numa tentativa de controlar a situação e já se antever a uma eventual perda.

Na experiência inicial da leitura, temos a sensação de quem controla tudo é Tessa, mas basta a metade do primeiro livro para vermos que o grande controlador sempre foi Hardin. O amor não desestrutura Tessa como acontece com ele. Ela se permite e se entrega bem mais e topa com muito mais facilidade abrir mão da vida que levava, vendo isso de uma forma positiva, inclusive. Quem ela se torna quando se perde da ‘antiga’ Tessa, a faz ir pra frente. E com Hardin é diferente. Ele até não controlava os compromissos, mas os seus sentimentos ele sofria por manter nos trilhos desse amor que ele até então desconhecia.

Essa pra mim é a grande virada de After. Os rótulos que conhecemos dos personagens no início vão caindo. O controle e a aparente ‘fraqueza’ de Tessa migram pra Hardin. Enquanto ela o descontrola e se fortalece, ele simplesmente não sabe lidar e vai correr atrás disso para não perdê-la.

E foi perdendo de si mesmo, que Hardin escolheu se encontrar no amor. E é só quando ele entende que isso é impossível controlar, que eles então se ajeitam. Não é controlando Tessa que ele a mantinha por perto, nem era do jeito dele que as coisas iriam dar certo. É do jeito do amor compartilhado, da carta que volta para o ‘seu’ endereço, mas que já traz uma nova mensagem. Respondendo ao primeiro parágrafo deste texto, foi quando Hardin compreendeu que não há jeito perfeito de amar, porque cada um ama de um jeito, que ele se fez o amor para Tessa.

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.

Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Lembram-se da Natalie? Aquela que é um dos pontos principais da carta que Hardin escreve para Tessa? Pois é, o texto de hoje é sobre ela e sobre a situação que ela desvela para o relacionamento Hessa, mesmo que sem querer.

Para quem não se lembra bem da história, Natalie é uma personagem fundamental. Além de revelar uma das cenas mais impactantes do passado de Hardin, ela representou um dos motivos pelos quais ele foi exilado de Londres para viver nos Estados Unidos, perto do pai. É também depois deste episódio, que Anna descreve o momento em que Hardin passou a sentir a ‘real’ solidão.

Para quem não se recorda desta personagem, aqui vai um breve resumo. Natalie era uma menina doce, de uma família tradicional e religiosa de Londres. Ela se apaixonou por Hardin, para quem se entregou sexualmente, mesmo indo contra os seus princípios morais e éticos. Ele gravou um vídeo da relação sexual entre eles e viralizou. Em poucos dias, a cidade inteira – incluindo a família dela e o ciclo da igreja, já estavam sabendo e julgando a garota pelo ato. Depois disso, a vida dela virou um pesadelo. Foi expulsa da igreja e da casa da família, e não tinha ninguém com quem contar, nem mesmo Hardin. Pelo visto, ele também pagou caro por isso: teve que sair da sua cidade natal e ir viver bem longe dali, onde se sentia sozinho e incomodado pela presença do pai.

Anos depois, após de um término com Tessa, Hardin vai para Londres e encontra Natalie na rua, que para alívio dele, já estava feliz com um noivo (Elijah) e com uma criança a caminho. Já sabendo da história deles, Tessa também a encontra por um acaso, quando vai à Londres com Hardin para o casamento de Trish. Elas conversam sobre o passado e como Natalie deu a volta por cima e encontrou um amor seguro.

Essa história não mexe com Hardin só pela gravidade da situação. Enquanto Natalie vira a página, ele vai remoer esta culpa por um bom tempo, desde a mudança para outro país até à crise existencial que ele vai ter por achar que nunca será um Elijah para Tessa.

Natalie tem vários papeis sociais em After: levantar uma questão importantíssima sobre cuidados e privacidade para os jovens que são expostos na internet e apontar as consequências disso para os dois lados (para quem sofre e para quem pratica esta ação); a maturidade de dar a volta por cima e não desistir da vida – embora ela tenha tido motivo pra isso, já que perdeu o apoio até da família; e revelar o quanto Hardin era afetado pela sua infância. Vou me ater a este último ponto, que é o objetivo desta coluna: analisar os personagens da série.

No livro Before, Anna descreve Natalie como uma personalidade doce e inocente, que representava um novo desafio para Hardin, bem como Tessa representara mais tarde. É incrível como ele tem uma questão com o sexual e a inocência de suas parceiras, não por um acaso. Lembra da história de Trish, que faz Hardin ter pesadelos por um longo período da vida? É disso que estou falando. Claro que nada justifica os dois atos graves cometidos por ele contra Natalie e Tessa (especialmente na aposta), mas percebam como Hardin tenta lidar com a história traumática da sua infância fazendo sofrer mulheres inocentes, bem como a sua mãe fora enquanto violentada pelo estupro.

Incompreendendo o mal daquele ato, Hardin se torna, inconscientemente, um homem que fará sofrer, sexualmente, parceiras aparentemente ‘indefesas’. É interessante como ele lida com o evento traumático da infância através do ato, da repetição. Talvez, se ele tivesse tido um espaço para falar sobre isso (inclusive com o pai), as coisas teriam sido bem diferentes. A família de Hardin peca muito pelo silêncio. Há muitos segredos sobre a mãe e os ‘dois pais’ dele. Já disse por aqui algumas vezes que onde não há palavra, há ato. Não existe ‘maldade’ pura e simplesmente, mas contextos que não favorecem para que essa pessoa canalize a sua ‘agressividade’ por meio de palavras. E vejam que quando Hardin começa a falar sobre isso com Tessa, isso começa a desparecer. Até com os pesadelos. É quando ele começa a dizer sobre aquilo, que aquilo passa a sumir aos poucos. Antes de Tessa, ele não tinha a quem contar.

No texto Porque Tessa perdoa Hardin discuti sobre esse ‘poder’ que a palavra tem, de dar a chance um sujeito emergir, para além dos seus atos. E é isso que faz um perdão.

Natalie e Tessa não estão na história de Anna para provar que Hardin estava certo em suas atitudes, mas para levantar um importante alerta sobre uma questão: Quantas segundas chances você teve na vida e nunca percebeu? Hardin teve várias, além da (grande) sorte de encontrar alguém que acima de tudo, lhe escutasse. É isso que o transforma e que faz do relacionamento deles, algo possível. Mas é claro, para alguém que só atuava para lidar com as suas questões, começar a falar simplesmente, não traria um personagem mudado da noite para o dia. Foi preciso resiliência até para que Hardin compreendesse que nenhuma Natalie mais seria necessária para que ele pudesse lidar com o seu passado.

Tessa transpõe os atos de Hardin pela palavra. O discurso feroz de punir o outro pelo próprio passado vai caindo. E sorte a dele dessas pessoas terem sido vitoriosas após os seus atos, senão correria o risco de ainda carregar essa culpa por mais tempo.

No consultório de psicologia já conheci muitos Hardins, que atuam sem dar uma segunda chance para si e para os outros, até encontrar alguém que fure esse discurso feroz, mas felizmente, também conheci muitas Natalies, que ressignificaram a vida  apesar dos traumas vividos. E nesse meio do caminho, também conheci After, que é uma boa chance para discutirmos sobre personalidades como a deles. Cada caso é um, singular, mas se esta coluna despertar o interesse das pessoas de falarem sobre os seus traumas, então terá feito algum sentido.

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.

Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Essa é uma sugestão que apareceu pelo Instagram e há muito tempo quero falar sobre ela. Já conversamos sobre a personalidade de Tessa em diferentes aspectos em outros textos da coluna After no Divã, mas este, especificamente, vou falar sobre o ‘super poder’ que essa mulher carrega consigo em todas as searas da vida.

Família, amigos, namorado… A sensação é que todo mundo já pisou na bola com Tessa em algum momento da vida. A cada perdão, uma mágoa vivida. Por ora, vou me ater ao grande momento que faz um enigma para o leitor que se interessa em continuar a leitura depois do primeiro livro. Será que Hardin terá uma segunda chance? Será Tessa capaz de perdoar a traição de seus amigos? Será que ela vai suportar viver com a ideia dos seus valores morais completamente desmoronados? Para todas essas perguntas, a resposta “sim” parece não indignar depois que começamos a conhecer a fundo esta personagem.

O que faz Tessa perdoar é mais do que o amor. É a resiliência. É algo que ela se dispõe e que hoje é raridade no mundo: ouvir o outro. Quando dizem que a história de Anna Todd é puramente abusiva (sem aplicar isso a um contexto) e que Tessa era submissa a Hardin, eu discordo veementemente. Ela é forte e sabia muito bem o que estava fazendo: ela estava se dando uma segunda chance. Não era para Hardin, era para si, de assumir a postura de uma mulher que também erra (inclusive nas suas escolhas), mas que há uma história para além do erro. E é claro que ele erra feio com ela, mas paga com juros altíssimos, como discuti no texto Por que Hardin permanece com a aposta mesmo já amando Tessa?.

Tem algo que ela quer descobrir e permanece nisso não por ‘inocência’, não mesmo. Há algo do passado que ela defronta em Hardin, com um homem que erra, mas dessa vez ela quer entender o porque. Diferente da sua infância, desta vez ela começa a fazer perguntas, e não engole qualquer história. Esse é o enigma que Hardin faz pra ela e é uma resposta que faz ela gozar desta posição: o erro é de quem a magoa, e não é por culpa dela. Quando perdoa Hardin, é como se ela quisesse ‘ficar para ver’ que os homens saem da sua vida cometendo erros gravíssimos não para atacá-la, mas porque não dão conta de si, de enfrentarem as suas próprias histórias.

É claro que a opção de perdoá-lo não é totalmente consciente. Vejo como um enfrentamento ao pai e à sua própria história. Tessa é tão forte, que fica para provar isso e mostrar ao outro: lide com os seus erros ao invés de magoar os outros. E não é isso que ela faz com Hardin depois que o perdoa? Coloca ele a trabalho e faz ele enfrentar cada monstro do seu passado. E é aí que o perdão se sustenta: porque há um amor, que absolutamente, ela não queria perder.

E assim como Tessa, quem continua a leitura dos livros também o perdoa. Quando entra a palavra e a informação sobre ele em detalhes, o julgamento pela história se torna possível, e pelo visto, muita gente decidiu perdoá-lo com ela (vide a quantidade de livros vendidos).

Costumo dizer que Tessa não passa a ser uma nova mulher depois de Hardin. Ela sempre foi assim, desse jeito, só não podia ser, nem se revelar. Sempre foi julgada pela família, pela vida social da mãe e pelo ‘castigo’ de não ter vivido com o pai, que talvez influenciaria nas regras e padrões que a mãe a impunha.

Em vários momentos do livro (e também em uma cena do filme), Hardin diz a ela quando ela precisa se colocar para mãe ou para Noah: não coloque isso na minha conta, isso é seu. Não é por causa de Hardin que ela abre mão da vida que levava. É por ela mesma. E quando ela se descobre, só há o After (depois). Isso muda as coisas.

Ao meu ver, o único momento em que Hardin a influencia a perdoar, é quando ela encontra o pai. Ele praticamente a coloca de frente com essa situação, assim como ela faz com ele quando o leva de forma mais constante para casa de Ken. Conhecendo Richard, ela passa a ver o homem para além da triste história que conhecia da infância, e percebe que é possível amá-lo, apesar de tudo.

Resumindo, há perdão porque há amor. Não que o amor tenha que sustentar todos os erros, mas é através dele que há possibilidade de ouvir o outro e não julgar o livro pela capa, literalmente. Entre o amor e o perdão há a resiliência, que faz com que uma pessoa dê uma nova chance ao outro e também a si mesma. E diferente do que a crítica pontua, After não fornece um ‘aval’ para que atitudes erradas permaneçam aí e que novas Tessas surjam para perdoá-las. Cada história é uma e todas devem ser traduzidas em palavras, porque enquanto não houver discussão, as pessoas envolvidas jamais saberão que existem uma segunda chance, seja para ficar, seja para sair da sua própria história.  

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.




Nome: After Brasil / Anna Todd Brasil
Online desde: 19 de Junho de 2014
URL: afterbr.com / annatodd.com.br
Webmaster: Douglas Vasquez
Contato: contato@afterbr.com
Versão: 4.0

O After Brasil é a maior fonte sobre a série no Brasil e no mundo; oficializado por Anna Todd e as editoras e distribuidoras parceiras. Todo o conteúdo do site (fotos, notícias, vídeos e etc) pertencem ao site a não ser que seja informado o contrário. Este site foi criado por fãs e para os fãs e não possui nenhum tipo de fins lucrativos.
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AFTER
Status: Disponível
Direção: Jenny Gage
Roteiro: Susan McMartin

AFTER: Depois da Verdade
Status: Pós-produção
Direção: Roger Kumble
Roteiro: Anna Todd

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