Na semana passada perguntei no Instagram do @afternodiva o que os leitores gostariam de dizer à Tessa se tivessem a chance de fazer uma única pergunta. Reuni algumas dúvidas e selecionei alguns comentários para que eu pudesse tentar discorrer neste texto. A proposta não é trazer ‘qual seria a resposta de Tessa’, até porque esse papel caberia apenas a Anna Todd, mas por aqui me atenho às análises a partir do contexto que temos conhecimento.
Não custa lembrar que este texto contém spoilers. Portanto, se você ainda não leu toda a série After, deixe o link salvo para voltar aqui quando tiver terminado. 🙂
1. O que é o amor para Tessa Young?
Vamos começar por esta, que parece ser a pergunta mais “fácil” de ser respondida, mas que na verdade é a mais complexa. Por mais que possa parecer que Tessa se entrega completamente (e talvez até cegamente) ao amor, no decorrer da história vemos que não se trata de um conto de fadas, e para ela, o amor nem sempre foi sinônimo de romance ou de felicidade. Ao meu ver, o amor para Tessa tem sentidos múltiplos: dor, angústia, amadurecimento, autoconhecimento e prazer. É sinônimo de medo, de perda, de submissão aos desejos de um outro por algum momento, mas é também mola propulsora de um empoderamento que fará ela amar a si mesma antes de todas as coisas. É amando um outro que Tessa irá perceber que só poderia ser feliz se amasse a si própria. O amor para Tessa, na minha opinião, é um reflexo no espelho de que a confiança é o que a faz afastar do que lhe faz mal. Sempre que alguém tentava decidir por ela o que deveria fazer, havia dor: sua mãe, Hardin, os seus ‘colegas’ de faculdade etc. E quando percebeu que amor não é sinônimo de submissão nem sobre se sujeitar a um desejo de um outro, mas que ela também poderia SER e DESEJAR, que pôde então ser feliz e partilhar com alguém sobre os prazeres da vida.
2. Se pudesse mudar alguma coisa do passado, será que Tessa mudaria?
Penso que talvez Tessa não mudaria nada. O que seria do seu amor se não pudesse conhecer a dor? Talvez ela quisesse ter acelerado o processo de amadurecimento, mas o que Anna nos mostra é que não é assim, alterando um comportamento como em uma fórmula mágica, que as coisas mudam. É um processo, uma escolha subjetiva, inconsciente, que a faz distanciar de seus valores enraizados. Costumo dizer que alterar um comportamento ou ouvir um conselho como “afaste-se dele” é muito fácil e bonito, se não tivesse nenhum sujeito por trás disso. Seguir um conselho não é tão simples quando o sujeito está ali também desejando, pois não há nada mais complexo do que afastar-se do próprio gozo. Se fosse fácil, ninguém erraria, não é mesmo?
3. O que Tessa pensava enquanto conhecia os traumas de Hardin?
Entendo que conhecendo Hardin, Tessa começou a ficar cada vez mais forte. A medida em que o papel do “cara intocável” vai caindo, ela vai percebendo qual é o tamanho da sua força. O que a fazia submissa a ele no princípio deixa de fazer sentido a partir do momento em que a ‘vida real’ vai tomando forma. Se antes ele estava em um papel do ‘ídolo indecifrável’, com a revelação dos traumas, ele vai se tornando um ser humano comum, frágil, cheio de furos, como a Tessa, como eu e como você. Além da curiosidade da personagem, a revelação de quem é o amado, para além do sujeito que se ama, a faz ficar com ele, e de maneira cada vez mais intensa.
4. Você acha que as pessoas realmente tem o poder de mudar as outras? Com tudo o que passou com Hardin, você acha que em outros casos, o amor por alguém pode sempre superar tudo?
Essa é uma boa pergunta para se fazer para Tessa, sem dúvida. De qualquer forma, no meu ponto de vista, não acho que foi ela quem mudou Hardin não. Acredito que ela tenha sido o meio, e talvez a principal motivação para que ele enfrentasse os fantasmas do seu passado, mas não foi ela a causa da mudança especificamente. O que ela faz com Hardin é quase o papel do analista, de colocar ele pra falar dos seus traumas, encarar de frente os seus problemas e dar lugar à palavra ao invés de atos (como ele sempre fez na vida). É por isso que ele muda. Ninguém muda ninguém. O que o amor de Tessa faz é colocar Hardin a trabalho. Quando ele consegue girar o discurso do ódio com a sua família e consigo mesmo, é que ele tem a chance de ser diferente.
5. Porque Tessa desiste de se casar ‘oficialmente’ com Hardin?
Várias pessoas já fizeram essa pergunta pra mim, inclusive. E essa é a grande virada do livro, ao meu ver. A sacada de Anna Todd é justamente passar a mensagem de que não existe conto de fadas e que as pessoas mudam e estão sim dispostas a abrir mão dos seus rótulos, do que acreditaram cegamente toda a vida que seria a felicidade. Tessa amadurece a ponto de dar conta de bancar suas novas escolhas: a nova profissão, um relacionamento mais maduro com a mãe e um romance fora do rótulo que sempre criou pra si. Quando ela não se casa oficialmente com Hardin revela de forma clara que o foco é ser feliz, na vida real, mesmo com todos os problemas, e não seguir os rótulos que a sociedade impõe do que é ou não ideal.
E você, o que acha destas que seriam possíveis ‘respostas’ aos questionamentos feitos à Tessa? Conte pra gente nos comentários.
Hardin quer ficar com Tessa, mas encontra Molly quando eles brigam. Tessa procura Zed nos momentos em que Hardin a magoa. Hardin procura uma antiga parceira quando ouve Tessa chamar por Zed em um sonho. Tessa começa a observar Trevor quando não está bem com Hardin.
Mas afinal, de onde vem essa insistência em colocar um “terceiro” na relação, especialmente quando uma parte dela cai? Em uma explicação simplista talvez fosse apenas para “irritar o outro” ou o fazer dar valor quando está prestes a perder. E sim, por mais infantil que possa parecer esta estratégia, no fundo o que ela pretende é estampar a possível perda da parceria amorosa quando um da relação não se sente valorizado. O fato é que é muito mais do que isso.
Em vários textos desta coluna eu já trouxe o conteúdo de que o que amamos no outro é o que ele desperta em nós: Tessa ama Hardin de uma forma diferente da que amava Noah, porque na realidade o que ela ama é a mulher que Hardin a desperta; é como se ela amasse ser quem é quando está com ele – e vice versa. E é isso que mantém em uma relação. Se não há sentimento no que o outro te traz, então não há amor.
A definição do amor passa também por uma aceitação social de que se é desejado. Saber que alguém dedica a si as suas pulsões sexuais traz prazer ao ego e insere o sujeito no desejo de alguém. É como se o amor, mesmo que em uma relação, fosse também um auto amor, um ‘se sentir amado’, que mantém o sujeito gozando da relação, independente de tudo o que tenha que enfrentar para isso. O ponto complexo da relação deles é quando o desejo vira só gozo, e um gozo próprio, que, no caso de Tessa, custa um sofrimento de manter conquistando o “inconquistável”, o que nenhuma outra mulher teve. Mas, para isso, ela também precisou fazer Hardin perceber (e aceitar) que também só gozava e que assim como era pra ela, pra ele também poderia ser um ambiente inseguro. Não era porque ela o amava que as regras seriam sempre dele.
Inserir um outro nesse vai e vem pulsional (de perde e ganha) os faz também gozar da posição de “sou desejada para além do seu olhar”. E, lá no fundo, há também o prazer de se satisfazer e ter a certeza de que se perder aquele sujeito que lhe deseja hoje, haverá outros e outras no mundo capaz de também lhe desejar.
O que estou querendo dizer com isso é que não é só um jogo endereçado a um outro quando se procura um terceiro. É também de uma jogada narcísica de tentar pertencer ao desejo de alguém, uma vez que aquele está abalado. Por isso uma relação amorosa estável é socialmente taxada como “felicidade” para o conceito social. Não há nada melhor do que ser aceito no desejo de alguém, especialmente naquele que eu também desejo. E é sim um trabalho árduo, de idas e vindas, porque o outro também precisa bancar o seu próprio gozo, inclusive em outras esferas. Já discuti aqui sobre o que mantém Hardin na aposta mesmo já amando Tessa, e apresento-lhes um novo argumento, para dizer que ele também estava inserido em um outro desejo, de ser reconhecido pelos amigos por manter um semblante de quem poderia controlar o que sentia, sem perdas – o que cairá por terra quando o medo de perder o desejo de Tessa passará a ser sua prioridade narcísica.
E é nessa mola do desejo que há também o prazer. Eles parecem querer (inconscientemente, é claro) testar o que é seguro e o que não é. A certeza de ser inscrito no desejo do outro traz consequências, mais ou menos dolorosas, a partir da insegurança do sujeito. Enquanto faz Tessa sofrer, Hardin é quem sofre mais pela insegurança. Até ter certeza que ele estava inscrito no desejo dela, precisou perdê-la várias vezes.
E quando isso para? Quando Hessa, especialmente na maturidade de Tessa, dá um ponto de basta nesta mola do desejo que vai e vem, e mostra a Hardin que uma relação não é jogo: não preciso um ganhar para o outro perder. Uma relação é uma parceria bancada pela segurança de um desejo, de um sujeito que não é “todo” seu. Ele é repartido, em vários pontos de desejo, mas que escolhe partilhar o sexual, endereçado a ti. Quando os dois aceitam que há desejo para além de si próprio, há relação possível.
Transitando pelos perfis de After é fácil perceber, pelos relatos de fãs, como a leitura de toda a série é rápida. A própria Josephine Langford (atriz que interpreta a Tessa no longa metragem) admitiu ler em tempo recorde todos os livros antes de começar as gravações. E porque a leitura é tão cativante? É óbvio que a narrativa é leve e instigante, mas há também outros fatores que fazem com que a história fique ainda mais interessante para o público. Como esta é uma coluna que fala sobre emoções, é claro que será a partir delas que iremos prosseguir. 🙂
Vale lembrar que a estrutura da escrita e o roteiro são, de fato, os fatores principais de audiência. Não adianta ter uma história boa se não puder contá-la de forma tão agradável. E Anna Todd faz isso brilhantemente. Todavia, há questões conscientes e inconscientes que faz com que a leitura individual de cada um transforme esta publicação em um aglomerado de admiradores ao redor do mundo. Vamos a elas:
Este pra mim é o principal. Dentre todas as pessoas que leram After até o final (mesmo as que não gostaram do resultado), sem dúvida alguma se identificaram a algum personagem ou situação. Basta a metade do primeiro livro para você já se reconhecer em alguém ou reconhecer em algum personagem, uma relação que você já tenha vivido (de amizade, de amor, de família, de faculdade…). Esse pra mim é o grande “segredo de sucesso” deste livro. A riqueza de detalhes exposta por Anna capta perfeitamente o leitor por alguma característica, nem que seja por uma contra identificação. Se a história te lembrou algum momento da sua vida ou de alguém próximo à você, acredite, você foi capturado nesse primeiro tópico da lista.
2. Sensibilidade e exploração de emoções
Se você não se encontrou no primeiro tópico, sem dúvida vai se encontrar neste. Se você tiver lido After até o fim e não se identificou a nenhum personagem, é porque se identificou a alguma sensação/situação. Não é preciso ser parecido com Tessa para se lembrar de amores improváveis, experiências sexuais, relacionamento com os pais, com amigos, com estudos etc. Já vi relatos de várias pessoas dizendo que só ficaram na leitura para ver como a personagem principal iria sair das situações. Nem que seja pela esperança de ver uma mulher mais empoderada, capaz de tomar as suas próprias decisões, você que leu até o fim, ficou pra ver.
Sobre as emoções, nem preciso dizer que são as maiores ofertas desta obra, não é? O leitor vai de ódio ao amor em menos de dez páginas corridas. E esse é um ponto fundamental da história: ela cria expectativa, frustra, devolve em alegria, para então começar tudo de novo. É como se After replicasse a montanha russa de novos relacionamentos, em que o leitor nunca sabe o que esperar, mas que quer desesperadamente descobrir onde vai dar.
3. Explorar o inexplorável
Há um fato fundamental em After que se chama: novidade. Tudo é novo pra Tessa, pra Hardin e pra família de ambos. Onde isso vai dar? Como eles vão reagir a isso? Será que vão conseguir sair disso? Tudo é novo. Não há nenhuma sensação que seja corriqueira. E não é isso que desperta os instintos jovens ávidos de curiosidade?
A graça está justamente nas palavras: “não fazemos ideia do que esperar, porque nunca saberemos o que pode acontecer”. O livro termina com um final tranquilo, o que indica que ele devesse mesmo terminar, porque o leitor que chegou até ali chegou pelo fator da novidade. After replica algo muito interessante das grandes histórias, especialmente a de “Alice no país das maravilhas”, onde tudo é novidade. Toda hora é um acontecimento novo, que ela nunca sabe como foi parar ali, mas de repente está, e é ali que se descobre, se renova, cria novos laços e novos ciclos. E não é isso uma delicia de ler? O frio na barriga despertado pela leitura de Anna é muito semelhante ao de Alice – sempre quis compartilhar essa impressão com alguém, e aqui estou eu explanando.
Bom, poderia enumerar pelo menos mais uns dez tópicos que fazem da leitura de Anna Todd irresistível, mas esses são pra mim, os principais. E para você? Você se identifica a algum deles?
“É possível ter mais de um amor na vida?”. Recebi esta pergunta no Instagram (@afternodiva) e achei pertinente discutir a resposta a partir dos triângulos amorosos que se formam em After: Tessa, Noah/Zed e Hardin; Trish, Vance e Ken; Landon, Dakota e Nora, dentre outros. O amor é explorado na obra de Anna Todd sob diversas facetas, mas hoje vou me ater a estas ‘surpresas’ das parcerias amorosas.
Pelos resultados que conhecemos de cada história, já podemos concluir que sim, é possível encontrar um novo amor, ainda que se considere o passado.
A vida é cheia de mudanças, de novos encontros e de suas próprias descobertas. Todavia, não há fórmula pronta e nem regra. Cada um tem a sua história e a sua versão de si que poderá (ou não) dividir com alguém.
Tessa amava Noah de um jeito fraternal, respeitoso, e foi sim muito feliz com a segurança que encontrou nele durante toda a vida. Não faz sentido compará-lo com Hardin se pensar que ela era feliz com o relacionamento que tinha. Sem conhecer outro mundo, ela parecia estar muito bem neste, tanto que gostaria que Noah tivesse ido para a faculdade com ela no primeiro momento. Com Hardin foi uma outra história, sobre a descoberta de si mesma. Uma vez que conheceu outra versão de si, percebeu que não poderia ser mais feliz do jeito que era e “viciou-se” em ser a Tessa que experimentava com Hardin.
Trish é uma mulher de um grande amor. A verdade é que ela nunca amou Ken como amou Vance. Embora a vida a tenha encaminhado para o casamento com um terceiro, ela nunca deixou de amar quem ela era quando estava com Vance. Neste caso, ela tentou criar uma versão de si que era ‘necessária’ àquela situação e acabou não sendo feliz. Todavia, ao final encontrou um novo amor e se casou novamente, mas desconfio que a relação com Vance jamais tenha morrido para ela (vide o fatídico dia em que Hardin flagrou os dois).
Vance, ao encontrar Kimberly, vê outra chance para si mesmo, e isso faz despertar o amor novamente. Bem como Ken, que parece encontrar em Karen, o seu primeiro (e real) amor.
Landon é como Tessa. Amava Dakota, mas foi praticamente “obrigado” a desistir dela, desde que não foi mais uma opção ficar com ela. Nora despertou nele uma nova versão, que ele estranhou a princípio, mas preferiu experimentar mais até ter a certeza de que queria seguí-la pelo resto da vida.
O amor aparece de diversas formas. Algumas são por circunstâncias da vida, por opções, por mudanças de paradigmas e outras nem sempre por escolhas. A experiência faz com que ele floresça sem regras, sem pudor, ele simplesmente acontece. O ser humano muda, conhece novas prioridades e novas versões de si mesmo; e tende a amar aquele que partilhar disso.
Resumindo, sim, é possível ter outros amores na vida a partir das nossas próprias descobertas. Já disse uma vez que o que amamos no outro é na verdade o que ele desperta em nós. Por isso, amamos uma versão de nós mesmos e de quem somos quando escolhemos dividir a vida com alguém.
Não vale a pena acreditar em um amor único se assim intitular a sua relação antes de vivê-la intensamente. Vale a pena viver, se descobrir e ser feliz, para então perceber que o seu relacionamento é pautado pelo amor. Não há rótulos, nem gênero, nem certo, nem errado. Há a sua experiência totalmente imperfeita, porque o verdadeiro amor está nas imperfeições, no esforço e na sua compreensão de que é possível superar as diferenças de alguém se aquilo lhe trouxer alguma satisfação real.
Amar é compreender-se, valorizar-se e respeitar a sua vontade de ser feliz. Se encontrar uma única pessoa que te desperte isso, legal; mas não significa que não poderá encontrar diversas vezes, porque dentre as várias versões de si, você acaba ficando com a que mais desperta o que há de melhor em você. Como Hardin. Como Tessa.
Muitas pessoas querem descobrir quem irá interpretar Trevor na continuação do filme, em After We Collided. Outras só querem saber se teremos o Smith para contracenar com Hardin nas cenas que podem ser as mais fofas da trama. 🙂 E hoje vamos falar sobre a identificação dos traços entre os irmãos de sangue, filhos de Christian Vance.
Smith tem um papel muito importante na história, porque revela vários traços da personalidade de Hardin. E não é assim que conhecemos as pessoas, a partir das suas relações com os outros? Por mais que Hardin resista a ideia de cuidar dele na primeira noite em que Kimberly pede esse favor à Tessa, não há como negar que ao final ele acaba curtindo a experiência. Como em diversos momentos de After, Hardin vive várias “primeiras vezes” desde que se permite a olhar para algo que vai além de si mesmo.
A priori, o pequeno já explicita uma mensagem clara de Hardin à Tessa, endereçando-a o desejo de nunca ter filhos, porque detestava crianças. E ainda no primeiro dia de contato, Tessa ouve Hardin dizer ao garoto que não iria se casar com ela – o que depois renderá uma discussão.
Para além de Hessa, Smith também traz algo importante sobre a identificação. Mesmo com toda a disponibilidade de Tessa, é com a ‘grosseria’ e com o prazer (quase consciente) de quebrar as barreiras de Hardin que ele opta em desfrutar. O pequeno faz perguntas difíceis e coloca o irmão mais velho no lugar do “não saber”, em qualquer chance que tenha de fazer isso. É até engraçado como ele tira Hardin do eixo e se identifica a ele justamente pela forma “inapropriada” de contato. Mesmo Tessa e Kimberly dando atenção, é a Hardin que ele sempre se direciona.
Em alguns momentos Smith parece ser uma versão mini de Hardin, numa personalidade resguardada, impetuosa, inquieta e desconfortante para o outro. Eles se parecem em detalhes importantes, como se incomodar com personalidades muito afetuosas, como aquelas que os circundam. Incomodar o lugar comum dos outros e “quebrar regras”, como as de que uma criança (não necessariamente) quer se sentir amada publicamente, parece funcionar bem no caso deles.
Há outro ponto de identificação importante entre os dois: a partilha da tragédia familiar. Apesar de terem o mesmo pai, sofreram perdas parentais importantes na infância: Hardin perdeu a figura paterna, enquanto Smith perde a figura materna. São duas “mortes” experimentadas por lutos distintos, mas que perpetuam o trauma de que uma figura importante a qualquer momento pode partir. Smith sempre pergunta a Hardin se as pessoas vão morrer, e Hardin se pergunta o tempo inteiro até quando Tessa irá ficar.
Smith vê em Hardin a figura do anti heroi, aquele com a tragédia explícita, como se ele pudesse examinar tudo o que lhe aconteceu, mas acreditar que ainda pode haver compaixão.
É uma relação de irmãos sem querer. Smith, mesmo saber, vai atrás daquele enigma que parece ser seu (e que poderia ser seu no futuro), de um sujeito que não se abre ao outro como as outras pessoas fazem. O indecifrável é o que chama a atenção do garoto. E vice versa. Há algo de curioso que faz Hardin aceitar a companhia de sua versão mirim.
A relação entre eles é um belo exemplo de que as identificações nem sempre acontecem pelo afeto excessivo. Tessa e Smith revelam que há algo no “misterioso” que faz o sujeito ir atrás. Por isso é muito difícil rotular uma relação “perfeita”, porque o significado disso é muito singular. E que Smith sirva de exemplo para quem ainda não compreende a mensagem final de After: é o mistério que mantém o respeito que se conquista.