Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista
Alerta de Spoiler! Se você não leu todos os livros da série, não deve ler este texto.
Decidi dar uma pausa na análise dos personagens esta semana, para discutirmos sobre o evento que muita gente aguarda: o lançamento do filme After. Após a agitada turnê de Anna Todd e dos dois protagonistas ao redor do mundo, a hora agora é a de olhar para dentro. Estamos prestes a nos deparar com uma versão distinta da que criamos enquanto percorríamos às páginas do livro. Sim, por mais que Josephine Langford e Hero Fieness-tiffin já tenham ganhado a cara de Tessa e Hardin, o enredo de uma leitura é o leitor quem faz. E isso nenhum diretor de cinema poderá te tirar.
Vai ser inevitável sair do cinema fazendo comparações entre os personagens ali apresentados e aos que você imaginou, na sua leitura, banhada pela sua história e pelo seu imaginário. Vai haver distinção, nem que seja dos locais aonde foram gravadas as cenas para os lugares que você viajou enquanto lia. E isso é natural e inevitável. O filme cumpre um papel – a começar o de ser um filme, e não um livro. O consumo das duas artes é diferente. Leitor e espectador não são a mesma coisa. Só causa incômodo porque irão expor uma mesma história, sob diferentes pontos de vista. Cada um criou a sua. E o cinema trará uma nova versão disso, diferente da sua, diferente da minha.
No texto Quem são os leitores de After eu discuti sobre a impossibilidade do filme superar uma expectativa que cada um criou, mesmo se fossemos nós mesmos os roteiristas. A visão do outro vai atravessar o ideal. Acho válido recuperar a analogia de livro X filme como eu X o outro na vida real. Cria-se um ideal do eu que sempre será frustrado por um semelhante, que por mais que se pareçam, sempre vão ser diferentes. Isso serve para Tessa X Hardin também. Há um imaginário que ao tempo inteiro será estilhaçado por outro que é diferente, que pensa e se comporta de maneiras distintas. Abrir mão de rejeitar o outro que tem outro ponto de vista pode ser uma bela experiência.
É uma chance interessante poder ver um filme sobre um livro que a gente gostou de ler. Isso dá relevância à obra e ainda cria a oportunidade de vermos os fatos contados de outra maneira, sem a nossa impressão. O cinema traz uma história. No livro, a gente é quem a cria. A representação do cinema dará forma para um imaginário criado a partir do eu de cada um, distinto e singular.Mas é como o real: nunca será alcançado. A representação nunca é igual ao ideal criado. Assim acontece também com os relacionamentos. Vejam Tessa, que se frustra a cada instante por um real inalcançável com Hardin. E ainda bem. Se as metades das laranjas fossem iguais, não haveria surpresa, tão pouco haveria prazer. Que graça teria um mundo padronizado pelos nossos ideais, sem furo, sem desejo e sem busca?
Portanto, abra o coração e a mente para ver uma versão diferente (mas semelhante) da que você imaginou, mas que nem por isso é pior nem melhor. Só é diferente. E você pode se surpreender e se divertir como quando leu o livro. Dê uma chance a nova versão dos fatos. Talvez seja isso que nos impeça de conviver melhor, inclusive com quem tem opiniões diferentes.
Passa lá no @afternodiva e me conta o que você espera do filme, sobre qual cena mais quer ver…
Conversaremos também depois do filme. Boa estreia para vocês!