Matéria publicada por: Douglas Vasquez

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Alerta de Spoiler! A coluna desta semana trata de aspectos apresentados nos livros da série After, e não no filme. Recomendamos que a leitura de todo o arco seja feita antes de continuar no parágrafo abaixo.

No último texto abordei uma possível análise da cena do lago com a clara coincidência entre o mito do narciso e um Hardin Scott até então apaixonado apenas pela sua própria imagem. Se você ainda não leu, clique aqui para ler. Desta vez, vamos voltar à emblemática cena do primeiro livro da série After sob uma perspectiva bem diferente, a partir da narrativa de Tessa Young, que atravessa também a nossa percepção dos fatos, uma vez que é ela quem conta esta história.

Ao perguntarmos “qual é a cena de After que vem primeiro à sua cabeça”, a do lago sempre estará lá como uma resposta, para a maioria das pessoas, por vários motivos. Além de ter sido (realmente) o primeiro encontro de Hessa, esta cena dá o tom para toda a narrativa de Anna Todd. Considero que é a partir daí que o leitor se vê capturado a adentrar na leitura, para ver o que virá depois do despertar sexual de Tessa. A pulsão sexual aparece pela primeira vez desvelada e então nos amarramos à Hardin junto com ela. Anna nos convence aí que o que vem a seguir é uma história de amor, de enigma e de desejo.

Considero este capítulo como o clímax do primeiro livro, mesmo que depois hajam vários desencontros e voltas. É na cena do lago que decidimos que precisamos ouvir Tessa falar mais sobre o seu primeiro parceiro sexual e qual será o desenrolar disto para a sua própria história.

Quando decide ir ao tal ‘local misterioso’,  Tessa permite-se adentrar em vários mundos e vê o desabrochar da sua personalidade em poucos instantes. Enquanto decide ir, ela decide automaticamente abdicar de várias outras escolhas que já havia feito na vida. A caminho do encontro conhecemos uma nova Tessa, que começa a se libertar de antigos hábitos: sai com um ‘desconhecido’, faz algo que a mãe e o namorado reprovariam, abre mão de uma agenda que possivelmente estaria ocupada com estudos e deixa para trás aquela garota que chegou à faculdade a poucos dias. Ao entrar no carro com Hardin, não é apenas ele que ela vai encontrar. É ela mesma. Ela vai ao encontro de si, do seu desejo. Essa é a cena do lago para Tessa: é a cena em que ela se conhece.

Tessa vive o que Freud chama do emblemático reaparecimento do estado de consciência do complexo de Édipo e o desligamento dos pais para o encontro de um objeto amoroso real externo. O despertar da puberdade de Tessa é encontrada em Hardin, não em Noah. Portanto, o que faz o relacionamento com o primeiro namorado falhar não é por uma questão do que ele é melhor ou pior do que o outro, mas o que ele desperta nela; e esse papel, para Tessa, foi despertado por Hardin. Podemos assim dizer, que a escolha amorosa não é consciente. Há fatores externos determinantes, mas mais uma vez, amamos no outro aquilo que ele desperta em nós. Por uma questão narcísica humana, como já foi dito aqui, ‘amo no outro aquilo que ele desperta em mim’.

A cena do lago é isto para Tessa: a descoberta de si, de que poderia fazer escolhas diferente das dos pais (da mãe, no caso) e a descoberta do próprio corpo, do gozo sexual e do prazer oculto do não saber do outro. Como foi abordado no primeiro texto desta coluna, o que mantém Tessa neste relacionamento é a pergunta “Quem é Hardin Scott?”, e eu acrescentaria “E o que ele quer de mim?”.  Mais uma vez defendo a ideia de que nomear o relacionamento Hessa como abusivo pura e simplesmente é manter uma ideia (talvez até machista) de que quem define é apenas Hardin. E não é. Há muita escolha e descoberta em jogo que faz Tessa gozar desta posição – não sem sofrimento, mas com um ponto pela descoberta que a mantém e a amadurece, encorajando-a até impor o seu ponto de basta.

A cena do lago é, portanto, para mim, a descoberta de Tessa. Conhecemos um Hardin que se confunde com essa ideia neste mesmo momento, pois percebe que amar a si próprio não seria o suficiente para mantê-la por perto, e uma Tessa que passa a se encontrar. E é nessa oscilação de encontros e desencontros entre si e em relação ao outro, que vai fazer da história irresistivelmente viciante.

Sobre a autora

Jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há quase três. Pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital, atua na clínica com jovens e adolescentes. No seu aniversário de 31 anos ganhou o livro After de uns amigos psicanalistas. Em um mês já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois.

Cínthia Demaria é jornalista, psicanalista e autora da Coluna After No Divã, aqui no After Brasil. Seus textos são apresentados semanalmente às quartas-feiras, sempre analisando um aspecto diferente dentro da Série After e os seus derivados.


Nome: After Brasil / Anna Todd Brasil
Online desde: 19 de Junho de 2014
URL: afterbr.com / annatodd.com.br
Webmaster: Douglas Vasquez
Contato: contato@afterbr.com
Versão: 4.0

O After Brasil é a maior fonte sobre a série no Brasil e no mundo; oficializado por Anna Todd e as editoras e distribuidoras parceiras. Todo o conteúdo do site (fotos, notícias, vídeos e etc) pertencem ao site a não ser que seja informado o contrário. Este site foi criado por fãs e para os fãs e não possui nenhum tipo de fins lucrativos.
com

AFTER
Status: Disponível
Direção: Jenny Gage
Roteiro: Susan McMartin

AFTER: Depois da Verdade
Status: Pós-produção
Direção: Roger Kumble
Roteiro: Anna Todd

Design por Douglas Vasquez Codificado por Uni Design
Hospedado por Flaunt Privacy Policy