Matéria publicada por: Cínthia Demaria

Por Cínthia Demaria – Jornalista e Psicanalista

Alerta de Spoiler! Se você não leu todos os livros da série, não deve ler este texto.

Depois de ler o primeiro livro da série After eu já estava decidida que precisaria deitar Hardin Scott no meu divã. Para ser sincera, o ‘furacão Hessa’ – como definiu o personagem Landon Gibson em Nothing More (spin-off de After), já justificaria todo um processo de análise, mas não é este o objetivo aqui. Este texto, obviamente, tratará de trechos da minha leitura de Hardin Scott, que inevitavelmente atravessa as minhas questões. Afinal, o que seria dos romances se cada um não pudesse criar o seu próprio personagem, não é?

Nem mesmo o livro Before dá conta de explicar o comportamento ‘esquentadinho’ de Hardin Scott nos primeiros meses de relacionamento com Tessa Young – e com o mundo, que é a partir de então que ele vai se abrir e se permitir expressar seus sentimentos. Em Depois da promessa (livro 5 da série) conhecemos um novo personagem, arrependido, disposto a se tornar marido e pai de família, a ser quem ele nunca admitiu querer ser. Mas sabemos que não foi tão fácil assim. Hardin submeteu-se ao processo de terapia para dar conta de suportar a separação geográfica de Tessa, sem se dar conta de que seria preciso estar longe para então poder ficar perto. Anna Todd não se alonga muito sobre esse momento do personagem, porque assim como a ela, só nos interessava saber o que eles faziam juntos. Sempre juntos!

Antes de adentrar a mente do nosso personagem queridinho é preciso destacar o ardente casal Hessa. Eles vivem a clássica paixão que envolve os sentimentos da forma mais profunda possível: amor, dor, raiva, tesão e tensão. É um ciclo que não acaba justamente porque termina antes de acabar. Quando chegam perto de se tornarem um casal tradicional, dão um jeito de desmoronar o lugar seguro, quase que numa tentativa proposital. Hardin tem medo de se envolver a princípio, mas desconfio que nas tentativas de afastar Tessa é quando ele mais a trazia para perto. Para eles é sempre um novo começo. É um relacionamento com vários inícios, onde não se permitem apagar o fogo da paixão em troca da comodidade de dias tranquilos. E é esta narrativa que Anna percorre, porque é quando eles finalmente dão certo, que a história acaba. Não há mais ‘fogo’ que pegar (literalmente, no caso de Hardin. Rs). Até porque, convenhamos, se buscasse um relacionamento tranquilo, Tessa jamais teria deixado Noah.

Sabemos que o final é tudo aquilo que esperamos durante os cinco livros e que os olhos azuis acinzentados de Tessa jamais deixaram de estar cheios de amor por Hardin, mesmo após anos juntos, com o casal de filhos etc. De qualquer forma, o objetivo aqui é analisar a narrativa que percorre noventa por cento da série, que é marcada pelos desencontros e as reconciliações viciantes, que não nos permite interromper a leitura entre um livro e outro.

Scott, Hardin

É através de Tessa que Hardin vai conhecer o seu mundo. Enquanto ele revela a ela quem ela realmente é, ela recompensa trazendo toda a sua história a tona, permitindo a ele conhecer-se junto. É impressionante como a trajetória profissional de Tessa é que revela o inconsciente de Hardin. Desde sua colega de quarto Setph, à descoberta dos (não tão) ‘amigos’ das festas da fraternidade, até o seu envolvimento profissional. Tessa aninha-se na casa dos ‘dois’ pais de Hardin na maior parte da história. Quando ele a machucava, ela buscava abrigo onde ele mesmo nunca teve.

Hardin se apega à Tessa como se não conseguisse ficar longe da sua própria história. O encontro com a amada leva-o para o sentimento da paixão e para a sua essência, nos diversos níveis. Ela revela a ele que é possível amar, mas que para isso é preciso enfrentar seus medos, sua família e a si próprio.

Ela faz o enigma pra ele de quem ele realmente é por trás da carcaça do bad boy. E é também o enigma que mantém esse relacionamento. É o que Freud classifica na histeria a partir da clássica pergunta “o que o outro quer de mim?”. Esse jogo do não saber com o querer saber é o que mantém os dois nessa relação de vai e vem, aparentemente doente, mas saudável ao ponto de ainda sim se fazerem bem e não conseguirem se desconectar.

Hardin é problemático e com uma saída certeira de Anna Todd, a partir do segundo livro, ela passa a dar voz a ele, antes que o leitor possa odiá-lo. Mesmo com todos os erros é impossível odiar Hardin Scott. É na imperfeição que o protagonista cativa os leitores, que podem até sentir raiva de Tessa quando tenta afastá-lo.

Anna ouviu em várias das entrevistas que Hardin poderia ser abusivo. Tessa diz isso a ele em Depois da Promessa e ele se chateia quando percebe que é a assim que ela vê o relacionamento deles. Ao final do livro, entretanto, Hardin ganha voz, como se representasse Anna, e justifica o seu posicionamento justamente quando convence Tessa que After precisaria ser publicado. Ele diz: “As pessoas precisam ler este livro para entender que não existem relacionamentos perfeitos como nos romances” e no capítulo seguinte Tessa complementa: “É muito fácil julgar alguém ou algum relacionamento quando você não está envolvida nele”.

Hardin desperta o que há de melhor e pior em quem o lê. Mas Hardin é cada um de nós. É a partir do outro que vemos a nós mesmos. Só sabemos o que é o amor e a dor, se houver alguém para provocá-los em nós. Tessa é o espelho inconsciente de Hardin que se manifesta sem borda, sem filtro, e desperta as reações humanas mais arcaicas, como a agressividade e a pulsão sexual. O mal estar só começa quando ele precisa ‘civilizar-se’ nas regras do amor e passa a submeter-se pela razão social de um outro – no caso, nas regras de Tessa, que também passam a ser as regras do leitor.

Em contrapartida, Hardin desmantela todo o discurso ‘civilizado’ de Tessa e a convida a viver as pulsões humanas sem qualquer pudor. Isso é o que a atrai. Nessa tentativa enlouquecedora de tentar viver os dois discursos, eles concordam que é melhor ser um pouco dos dois.

Entretanto, o acordo principal que o casal faz na narrativa é: escolhemos viver os desencontros do amor. É disso que vivem os casais. Hardin e Tessa são o exemplo perfeito para a clássica frase do psicanalista Jacques Lacan: “Amar é dar ao outro aquilo que não se tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo.  Quando reconhecemos no que se transformaram os dois protagonistas de After ao final da leitura, só vemos a doação da falta de um ao outro. Ou seja, só vemos amor.


Sobre a autora

Eu provavelmente tenho o dobro da idade da maioria das leitoras de Anna Todd. Sou jornalista por profissão há dez anos e psicóloga há quase três. No meu aniversário de 31 ganhei de um grupo de amigos psicanalistas o livro After. Sou pesquisadora da área de Psicanálise e Cultura Digital e atuo na clínica com jovens e adolescentes. Esta foi a desculpa deles para me presentearem com Anna Todd ao invés de uma obra de Sigmund Freud ou Jacques Lacan. Ainda bem que eles fizeram isso. Em um mês eu já tinha lido a série completa. E agora é só o Depois. 


Cínthia Demaria é jornalista, psicanalista e autora da Coluna After No Divã, aqui no After Brasil. Seus textos são apresentados quinzenalmente às quartas-feiras, sempre analisando um aspecto diferente dentro da Série After e os seus derivados.


Nome: After Brasil / Anna Todd Brasil
Online desde: 19 de Junho de 2014
URL: afterbr.com / annatodd.com.br
Webmaster: Douglas Vasquez
Contato: contato@afterbr.com
Versão: 4.0

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AFTER
Status: Disponível
Direção: Jenny Gage
Roteiro: Susan McMartin

AFTER: Depois da Verdade
Status: Pós-produção
Direção: Roger Kumble
Roteiro: Anna Todd

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